Quando eu era uma garotinha, eu morava em uma casa assombrada. Aconteciam um
monte de coisas, muitas para contar para vocês. Mas tem algumas, que eu me
lembro claramente, que eu gostaria de compartilhar com vocês.
Eu realmente não sei quando começou, eu só sei que parece que a casa sempre teve
algo de estranho. A casa era novinha e nós éramos as primeiras pessoas a morar
lá, então eu acho que tinha algo a ver com o terreno, apesar de eu não saber da
história dele.
Coisas sempre sumiam, algumas eram encontradas mais tarde, e algumas nunca mais
eram vistas. Havia pontos frios por toda a casa, mesmo durante o verão. Onde nós
morávamos é bem quente, mas não tínhamos ar condicionado, então os pontos frios
não eram disso. A família inteira sentia esses pontos frios e as vezes também
víamos uma sombra negra em quase todos os cômodos da casa, geralmente a noite,
mas as vezes em plena luz do dia.
O meu irmão falou que algo pegou as cobertas dele numa noite e os escondeu. Ele
acordou mais tarde com frio e teve que procurar o cobertor e o lençol até
achá-los no armário.
AS vezes algo chamava o nome da minha mãe no meio da noite, e ela levantava para
ver o que podia ser e todos estavam na cama dormindo, não tinha ninguém
acordado. Não tinha ninguém em nenhum canto da casa, pelo menos ninguém que ela
pudesse ver, mas ela falava que podia sentir o que quer que fosse aquilo.
O meu irmão encontrou um amigo dele uma vez e perguntou para ele porque ele não
ia mais em casa. Ele falou que nunca mais queria chegar perto da nossa casa.
Quando o meu irmão perguntou o porquê, ele contou essa história: Ele falou que
foi lá numa tarde, quando estava quase escurecendo, ver o meu irmão, mas não
tinha ninguém em casa, então ele resolveu ficar esperando no carro. Ele falou
que depois de um tempo, enquanto ele estava no carro, uma pessoa saiu de trás da
casa, vestia uma espécie de manto com capuz que cobria o corpo e o rosto
inteiro, e começou a andar na direção do carro. Ele achou que era o meu irmão
querendo assustar ele, então ele simplesmente ficou lá parado dentro do carro.
Mas na metade do caminho ele conseguiu ver alguma coisa debaixo do capuz, um
rosto com uma pele mais negra que a noite, que mais parecia uma casca (ele falou
que lembrava bastante pele de réptil, tipo do jacaré), com dois olhos azuis que
pareciam cristais. Quando ele chegou um pouco mais perto, ele podia ver um leve
brilho alaranjado saindo daquela pessoa. Aquilo foi o suficiente para assustar
ele, então ele tentou ligar o carro para sair de lá o mais rápido possível, mas
o carro não ligava. Ele tentou feito louco fazer o carro pegar. Ele estava quase
saindo do carro para ir correndo mesmo, quando o carro pegou. Ele estava saindo
com tudo e olhou para o lado e aquele pessoa estava só a uns 3 metros do carro.
Ele foi de ré o mais rápido que ele podia até a estrada de terra, virou o carro
e se mandou de lá. Ele falou que quando chegou na estrada, quando ele estava
virando o carro, ele olhou para trás para ver onde a pessoa estava, e ela estava
em pé bem onde o carro estava parado antes, olhando para ele com aqueles olhos
azuis e frios. Depois disso ele nunca mais voltou para a nossa casa.
Mais uma coisa que é realmente estranha, nós vivíamos no campo, na periferia de
uma cidadezinha pequena. Na vizinhança inteira da nossa área, não tinha mais do
que 40 pessoas morando, que queriam fugir da vida estressante de São Paulo. O
centro da cidadezinha ficava a uns 30km de onde estávamos. Estávamos bem no meio
do mato mesmo, cheio de animais silvestres por toda a nossa volta, incluindo um
monte de pássaros. Nós morávamos em um morro que era o ponto mais alto das
redondezas, mas nunca teve passarinho nenhum no nosso quintal ou em nenhum lugar
dentro dos 5 acres que eram da minha família.
A minha mãe ainda mora na casa, mas agora ela esta sozinha lá. Todos os filhos
se casaram e se mudaram, e agora temos as nossas casas. O meu pai faleceu em
1986.
Ela fala que ainda sente o que quer que seja que tem por lá, e de vez em quando
ainda vê as sombras e ainda é acordada no meio da noite com alguém chamando o
nome dela, mas agora ela já está acostumada com isso tudo e fala que o que quer
que seja não incomoda ela, a não ser pelas coisas que somem.
Ainda não há pássaros pelo quintal.
Taty - S.P.